quinta-feira, 2 de novembro de 2023

ENEM: Ansiedade e medo podem apagar a memória durante a prova, entenda como se preparar

Mirthis Czubka De Abreu, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, explica a causa dessa perda de memória e o que fazer para driblar esse bloqueio

Crédito: divulgação

01/11/2023 | O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é um dos vestibulares mais importantes do Brasil e um dos momentos mais cruciais na vida de muitos estudantes. No entanto, o estresse, a ansiedade e o medo podem atrapalhar o desempenho, levando à perda de memória durante a prova.

Mirthis Czubka De Abreu, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, explica que a memória tem um papel na aprendizagem, pois permite o reaproveitamento das experiências do passado e presente, além de ajudar a garantir a continuidade do aprendizado. “A memória é um processo ativo de codificação, armazenamento e recuperação de nossas experiências. Ainda que seja para realizar uma prova, um sentimento levemente incômodo pode surgir: o medo. É normal ter certos receios neste momento, como a possibilidade de ter uma experiência negativa ou mesmo de não conseguir fazer uma boa prova”.

Mas o que muitos não imaginam é que o medo pode causar o efeito de perda de memória durante a prova, entre elas, o ENEM. “A ansiedade é uma das principais causas de perda de memória em todas as faixas etárias, principalmente em jovens, pois diante desta condição, ocorre ativação de múltiplas regiões cerebrais e aumento da atenção e hiper vigilância a estímulos ameaçadores, levando a lapsos de memória por desatenção e falta de concentração. Assim, podendo haver uma perda de memória repentina em situações como realizar uma apresentação oral, ou, uma prova”, destaca a professora.

Estudos científicos vêm demonstrando que situações de estresse crônico levam à liberação excessiva do hormônio cortisol, podendo também prejudicar a memória e outras regiões do cérebro relacionadas ao armazenamento de informações.

Segundo a professora e psicóloga, os principais fatores que levam a esse efeito de perda de memória durante a prova são ansiedade, falta de preparação e sono, fatores emocionais, pressão do tempo e externa, alimentação e hidratação inadequadas e distrações durante o exame.

Para driblar a perda de memória durante o ENEM e demais provas, a professora da Faculdade Anhanguera elencou algumas dicas, confira:

Comece a Preparação com Antecedência. A preparação para o ENEM deve começar com bastante antecedência. Distribuir o estudo ao longo de meses ou mesmo anos é mais eficaz do que tentar absorver todo o conteúdo em semanas. Isso ajuda a reduzir a ansiedade, pois você terá mais tempo para revisar e aprofundar os tópicos. Faça resumos, mapa mental e esquemas, e associe novos aprendizados aos que já conhece.

Estabeleça um Cronograma de Estudo. Criar um cronograma de estudo bem estruturado ajuda a manter o foco e a organização. Reserve tempo para cada matéria, faça pausas regulares e planeje a revisão de conteúdo importante antes do exame. Exercite o que aprendeu e faça associações entre os conteúdos aprendidos.

Ensine o que aprendeu para alguém. Uma das estratégias mais eficazes para consolidar o conhecimento é ensinar o que você aprendeu para alguém. Quando você explica um conceito ou tópico a outra pessoa, precisa organizar suas ideias de forma clara e concisa, o que fortalece sua compreensão.

Pratique com simulados. Realizar simulados é uma das estratégias mais eficazes para se preparar para o ENEM. Além de testar seus conhecimentos, eles ajudam a se acostumar com o formato da prova, a administrar o tempo e a lidar com a pressão.

Gerencie a ansiedade. A ansiedade é uma emoção natural antes de um exame tão importante, mas é importante aprender a gerenciá-la. Técnicas de relaxamento, como a respiração profunda e a meditação, podem ser úteis. Lembre-se de que a ansiedade em excesso pode prejudicar seu desempenho e levar a perda de memória, então busque ajuda profissional se necessário.

Mantenha uma Atitude Positiva. Mantenha uma mentalidade positiva. Lembre-se de que o ENEM é apenas uma parte do seu percurso acadêmico, e não um julgamento definitivo de seu valor ou capacidade.

Busque Apoio. Se você está lutando com a ansiedade e o medo em relação ao ENEM, não hesite em buscar apoio de amigos, familiares ou profissionais de saúde mental. Conversar sobre seus sentimentos pode ajudar a aliviar a pressão.

“Lidar com a ansiedade e o medo durante o ENEM é um desafio comum, mas com a preparação adequada e estratégias de gerenciamento de estresse, é possível enfrentar o exame com mais confiança e reduzir o risco de perda de memória durante a prova. Lembre-se de que o ENEM é uma etapa importante em sua jornada educacional, mas não define seu futuro”, finaliza a coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera.

domingo, 29 de outubro de 2023

Muito além de alucinação e delírio: conheça 8 sintomas da esquizofrenia

Um dos transtornos mentais que mais leva pacientes a internação e residência terapêutica, a esquizofrenia apresenta diversos sintomas que podem ser confundidos com outras doenças; psiquiatra comenta

Crédito: canva


28/10/2023 | A esquizofrenia é, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a terceira causa de perda de qualidade de vida em pessoas entre 15 e 44 anos. O transtorno mental caracterizado pela perda de contato com a realidade, alucinações e falsas convicções atinge cerca de 1,6 milhão de pessoas no Brasil e é uma das doenças que mais leva pessoas para residências terapêuticas - casas construídas para responder às necessidades de moradia de pessoas que possuem esse ou qualquer outro tipo de transtorno mental mais grave.

Segundo o Dr. Ariel Lipman, médico psiquiatra e diretor da SIG - Residência Terapêutica, a esquizofrenia é um transtorno mental tão agressivo, que não é classificado como leve, moderado ou grave. “Na grande maioria dos casos, trata-se de uma doença em que a pessoa não consegue dar conta da própria vida, mas é claro que existem algumas exceções”, afirma ele. Ainda de acordo com o especialista, quando nem mesmo a família consegue dar conta desse paciente, a residência terapêutica é uma ótima alternativa.

Ao falarmos de esquizofrenia, automaticamente as pessoas pensam em sintomas como alucinação e delírio, mas, segundo o Dr. Lipman, os sinais vão muito além. “Esses são os mais comuns e os que todo mundo conhece, mas é uma doença que envolve muito mais do que isso”, comenta ele.

Movimentos anormais

Sim, alucinação e delírio talvez sejam as maiores associações com o esquizofrênico, mas quem tem essa condição também apresentará, na maioria das vezes, movimentos anormais do corpo. “Isso acontece quando o paciente está nervoso e ansioso. Assim, ele torna seus sentimentos perceptíveis para quem vê de fora”, comenta o psiquiatra.

Em resumo, o paciente pode permanecer com uma postura estranha, realizar movimentos repetidos e até mesmo ficar completamente imóvel por longos períodos.

Isolamento social

O isolamento social é um sintoma que aparece em diversos tipos de transtornos. Quando a pessoa sofre com depressão, por exemplo, ela tende a se afastar dos outros e, não à toa, a esquizofrenia pode ser confundida com essa e outras doenças mentais. Além disso, o esquizofrênico tende a ter crises de ansiedade e está propenso a essa espécie de solidão.

“Quando esse isolamento acontece excessivamente e combinada com outras situações, ela pode até mesmo ajudar a diagnosticar o transtorno, já para quem tem o diagnóstico e é tratado, isso pode ser controlado”, explica o Dr. Lipman.

Alterações de comportamento

Assim como todo transtorno mental, a esquizofrenia muda o modo como a pessoa se sente, se comporta e pensa e por isso as alterações de comportamento são comuns nesse indivíduos.

“Uma doença psíquica vai causar alterações comportamentais no indivíduo que vai depender de sua intensidade e gravidade, no caso da esquizofrenia, isso pode resultar em agressividade, indiferença e até mesmo síndrome do pânico”, comenta o especialista.

Medo e raiva

De acordo com o Dr. Lipman, o medo faz parte da rotina do esquizofrênico e está diretamente ligado ao fato de essa pessoa ter alucinações e delírios. “Se a doença não estiver sendo tratada, essa pessoa apresentará episódios como estes e, por não ter plena consciência do que está acontecendo, sentirá medo, descontando nas pessoas que estão próximas, ou seja, será tomada pelo sentimento de raiva, mágoa e medo”, explica.

Desilusão com a vida

É comum que os portadores de esquizofrenia sejam desiludidos com a vida, não sintam prazer e fiquem constantemente tristes. “Principalmente quando esse paciente convive com a doença há muito tempo, esse sintoma aparece bastante, pois é como se ela estivesse cansada de passar por tudo que passa”, comenta o médico.

Agitação

Como a esquizofrenia está relacionada - principalmente em casos mais avançados - a alterações sensoriais e comportamentais é comum que os portadores da doença apresentam muita agitação.

“Como citado anteriormente, essas pessoas apresentam delírios, alucinações, medo, raiva, entre outros sintomas, e isso acaba causando muita agitação”, explica o Dr. Lipman.

Confusão mental

Nos momentos de crise do esquizofrênico, a confusão mental é algo que pode acontecer com muita frequência. “Aquele paciente está sentindo um milhão de coisas desconfortáveis, ouvindo vozes, tendo sensações sem nenhuma explicação e é comum que essa confusão fique mais evidente”, comenta o psiquiatra.

Problemas com a fala

Problemas relacionados à comunicação são bem típicos do esquizofrênico, segundo o Dr. Lipman. “Problemas com a fala são um exemplo e podem derivar de diversas causas, como o medo, a ansiedade ou realmente uma dificuldade em dialogar”, comenta ele. “Isso não significa que eles não falem, mas as frases podem ser confusas e sem coerência", finaliza.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Pessoas com maior paz de espírito conseguem regular melhor as emoções

A paz de espírito é uma forma de bem-estar caracterizada pela paz e harmonia internas.

Redação do Diário da Saúde | 24/10/2023

Imagem: G. Poulsen/Pixabay

Hedônico e eudaimônico

Pessoas com níveis mais elevados de paz de espírito são melhores em reinterpretar situações de modo a regularem suas emoções, em vez de as suprimirem ou de lhes darem vazão de modo reativo e descontrolado.

O bem-estar mental (ou felicidade) tem sido objeto de vários estudos nas últimas décadas e hoje é reconhecido como abrangendo duas dimensões distintas: o bem-estar hedônico (caracterizado pela presença de emoções positivas, pela ausência de emoções negativas e pela satisfação com a própria vida) e o bem-estar eudaimônico (marcado pelo crescimento pessoal, mestria e vida com significado e propósito).

No entanto, muito menos atenção tem sido dada pelos pesquisadores à paz de espírito, uma forma de bem-estar caracterizada pela paz e harmonia internas.

Nas culturas orientais, a paz e a harmonia internas são consideradas fundamentais para o bem-estar. Um estudo piloto envolvendo participantes chineses, por exemplo, revelou que a paz de espírito estava positivamente associada à satisfação com a vida e às emoções positivas, e negativamente correlacionada com emoções negativas, depressão e ansiedade.

Nas culturas ocidentais, as pessoas também acreditam que ter paz de espírito é crucial para seu bem-estar. Por exemplo, pesquisadores conseguiram replicar aquelas descobertas pioneiras do estudo chinês em um grupo de participantes ocidentais, mostrando adicionalmente uma ligação positiva entre a paz de espírito e o bem-estar eudaimônico.

Imagem: Peter Ziegler/Pixabay

Controlar as próprias emoções aumenta a paz de espírito, deixando a pessoa mais resistente aos acontecimentos externos.

Reavaliação cognitiva

A questão crítica é saber porque alguns indivíduos têm mais paz de espírito do que outros, ou seja, o que está na base das diferenças individuais. Embora se saiba que diferentes processos psicológicos podem estar envolvidos, décadas de pesquisas mostraram que um fator importante que explica diferentes aspectos do bem-estar e do mal-estar é a regulação das emoções.

Surpreendentemente, até hoje nenhum estudo havia examinado especificamente a relação entre a paz de espírito e a regulação das emoções. Para preencher esta lacuna, a Fundação Bial (Portugal) financiou três pesquisadores para que eles realizassem dois experimentos, um na Finlândia e outro nos EUA, avaliando a paz de espírito, as estratégias de regulação emocional que normalmente as pessoas utilizam e outros aspectos do bem-estar e do mal-estar.

Os resultados mostraram que as pessoas com níveis mais elevados de paz de espírito apresentam maior tendência para utilizar a estratégia de reavaliação cognitiva, ou seja, reinterpretar situações de modo a regular as suas respostas emocionais (reenquadrar uma situação que provoca ansiedade, como fazer um exame ou uma entrevista de emprego, encarando-a como uma oportunidade para mostrar o conhecimento e o trabalho árduo), e menor tendência ao uso de supressão emocional, ou seja, esconder ou não expressar emoções (tentar não mostrar o quanto se sente ansioso/a).

Os experimentos não só demonstraram que pessoas com níveis mais elevados de paz de espírito tendem a usar estratégias de regulação emocional mais adaptativas, mas também que esta relação se generaliza em contextos culturais ocidentais diferentes.
Checagem com artigo científico:

Artigo: Individual differences in peace of mind reflect adaptive emotion regulation, Personality and Individual Differences
Autores: Pilleriin Sikka, Antti Revonsuo, James J. Gross
Publicação: Personality and Individual Differences
Vol.: 215, 112378
DOI: 10.1016/j.paid.2023.112378

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Como os sonhos podem afetar seu dia de trabalho

A emoção de maravilhamento, êxtase ou reverência não precisa estar ligada à espiritualidade.

Da Redação do Diário da Saúde

[Imagem: Criador de imagens do Bing/DALL-E]

Sonhos e trabalho

10/10/2023 | Quando as pessoas se lembram dos seus sonhos pela primeira vez, elas tipicamente estabelecem ligações entre os seus sonhos e a vida desperta, e essas ligações são fortes o suficiente para alterar a forma como as pessoas pensam, sentem e agem no trabalho.

"Semelhante à epifania [experiência divina ou transcendente, envolvendo uma súbita compreensão das coisas], descobrimos que ligar os pontos entre os sonhos e a realidade dá origem à reverência - uma emoção que desperta a tendência de pensar sobre nós mesmos e sobre as nossas experiências no grande esquema das coisas," explica o professor Casher Belinda, da Universidade de Notre Dame (EUA). "Isso faz com que os estressores subsequentes do trabalho pareçam menos assustadores, aumentando a resiliência e a produtividade ao longo do dia de trabalho."

A equipe realizou três experimentos que capturaram coletivamente aproximadamente 5.000 relatos matinais de lembranças de sonhos entre funcionários de tempo integral. Isto envolveu uma entrevista pela manhã, uma à tarde de um único dia e uma amostragem experimental de duas semanas.

À primeira vista, parece que nossos sonhos têm pouca ligação com o nosso dia de trabalho subsequente. No entanto, a maioria das pessoas sonha pouco antes de começar a trabalhar em um determinado dia. E o estudo revelou que, quando recordamos os nossos sonhos - que, para as mentes adormecidas, são muito reais - eles podem preparar o cenário para o resto do nosso dia.

E estas relações persistiram mesmo depois de se contabilizar o quanto ou quão bem as pessoas dormiam, sugerindo que as consequências psicológicas de recordar e encontrar significado nas experiências dos sonhos podem compensar as consequências fisiológicas de um sono ruim.

Anote seus sonhos

Os sonhos ocorrem em todas as fases do sono e geram efeitos independentemente dos hábitos de sono. No entanto, os sonhos mais vívidos - aqueles com maior probabilidade de terem significado e criar reverência (admiração ou maravilhamento) ao acordar - ocorrem durante o sono REM. Como o sono REM ocorre no final de um determinado ciclo de sono, dormir o suficiente e ter um sono de alta qualidade ajudar a aproveitar ao máximo os sonhos.

"As pessoas ficam maravilhadas quando passam por algo amplo - algo que desafia sua compreensão ou a maneira de pensar sobre as coisas," explica Belinda. "Essas experiências podem assumir diferentes formas, sejam físicas, como ao testemunhar a aurora boreal, ou conceituais, como ao compreender as implicações de uma grande teoria. A reverência frequentemente beira os extremos ou limites superiores de outras emoções, por exemplo quando as pessoas experimentam profunda gratidão ou admiração. Os sonhos são experiências conceitualmente vastas que têm uma capacidade impressionante de provocar sentimentos de reverência."

Os pesquisadores sugerem que, para tirar máximo proveito dos seus sonhos, uma prática simples é manter um caderno no quarto, e anotar os sonhos tão logo acorde, antes de se levantar.

Checagem com artigo científico:

Artigo: A Spillover Model of Dreams and Work Behavior: How Dream Meaning Ascription Promotes Awe and Employee Resilience
Autores: Casher D. Belinda, Michael S. Christian
Publicação: Academy of Management Journal
Vol.: 66, NO. 4
DOI: 10.5465/amj.2021.0377

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Lava Jato beneficiou Estados Unidos com pelo menos R$ 1,3 bilhão, mostra estudo

Os dados são parciais (ou seja, os valores ainda podem aumentar). As estatísticas foram divulgadas pelo Observatório da Lava Jato

(Foto: Marcos Corrêa/PR | Pedro de Oliveira/ALEP)


Jornal GGN - 16/10/2023 | Graças às investigações da Operação Lava Jato contra grandes construtoras brasileiras, países como Estados Unidos e Suíça saíram ganhando uma fortuna. Somente em multas aplicadas em acordos de leniência, delação premiada e outros compromissos, gigantes nacionais tiveram de desembolsar pelo menos R$ 1,3 bilhão para o caixa dos Estados Unidos, e outros R$ 982 milhões para os suíços.

Os dados são parciais (ou seja, os valores ainda podem aumentar) e foram divulgados pelo Observatório da Lava Jato, organização integrada pelos juristas Carol Proner, Lenio Streck, Fernando Augusto Fernandes, Ney Strozake e Charlotth Back. Com o levantamento inédito, o grupo busca lançar luz sobre o paradeiro dos recursos bilionários que foram arrecadados pela Lava Jato e que, até hoje, seguem sem controle e transparência. “Os valores referem-se apenas aos acordos que subimos até o momento no Observatório. Não esgotam, no entanto, o total, à medida que ainda estamos tratando e levantando todo material”, explicam os membros dos Observatório.

domingo, 15 de outubro de 2023

Mídia brasileira ataca Lula até quando fala de Israel

Cobertura força relação entre PT e Hamas para fabricar elo de terrorismo.

14/10/2023 | Um artigo escrito por Andrew Fishman do Intercept apontou 11 distorções comuns na mídia corporativa — especialmente a americana e a brasileira — sobre os últimos episódios envolvendo Israel e a Palestina, todas feitas sob um viés pró-Israel e anti-Palestina. Nos últimos dias, os principais veículos brasileiros de jornalismo deram um show de 'chapabranquismo' em relação ao governo isralense.

As 11 distorções têm sido gabaritadas com excelência por aqui. Quase tudo o que se publica parece ter saído da assessoria de comunicação do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Os convidados para comentar nos programas de TV — analistas, brasileiros residentes em Israel, pesquisadores — são, na sua grossa maioria, alinhados às posições do governo de extrema direita israelense.

O horror imposto pelo Hamas aos civis israelenses é tratado como um episódio ocorrido no vácuo. Pouco ou nada se fala sobre o terror diário que os palestinos vivem dentro do apartheid imposto pelo governo de Israel. As cenas de terror vistas nos últimos dias contra civis israelenses são injustificáveis e, com isso, todos concordamos.

Por outro lado, nos jornais brasileiro sempre encontra-se com facilidade justificativas para o contra-ataque israelense na Faixa de Gaza. O revide terrorista contra civis palestinos é tratado como algo justo e moral nos jornais brasileiros. O regime de apartheid vivido há anos pelo povo palestino é um dado quase que irrevelante no noticiário.

A impressão que se tem ao acompanhar a cobertura dos jornais da Globo é que os palestinos são selvagens, antidemocráticos e potenciais terroristas. Já os israelenses são os democratas do Oriente Médio que agem em legítima defesa. O maniqueísmo, sempre sob o viés israelense, é o que prevalece na telinha da Globo.

Neste aspecto, a GloboNews é o canal que mais se destaca. É possível ver um comentarista ou outro tentando contextualizar os fatos e fugir da lógica do bem contra o mal, mas é raridade. O padrão são notícias dadas sob a ótica do governo isralense sendo comentadas por analistas que ignoram a existência do regime de apartheid imposto há anos pelo governo israelense.

No esgoto das fake news, na qual nada a extrema direita brasileira, o governo brasileiro é uma das principais vítimas. Circula com força nas redes sociais as seguintes notícias: "Hamas é o grupo terrorista ao qual Lula doou R$ 25 milhões" e "Dinheiro dos brasileiros sendo utilizado para financiar o terrorismo".

A imprensa corporativa não ajuda a esclarecer essas mentiras, pelo contrário, contribui para reforçá-las. Apesar de ter repudiado os ataques terroristas que vitimaram civis israelense, o governo brasileiro foi criticado por supostamente ter poupado o Hamas ao omitir o seu nome no comunicado oficial divulgado pelo Itamaraty.

Na GloboNews, a jornalista Mônica Waldvogel se sentiu à vontade para afirmar que "parte do PT tem ligação com o Hamas". Nunca houve qualquer ligação oficial do partido com o Hamas. Há uma confusão deliberada entre o apoio que parlamentares do partido deram à causa palestina no passado com um endosso aos recentes atos terroristas. Isso se repetiu em outros veículos. ​​

Em 2021, vinte parlamentares petistas assinaram um manifesto condenando a classificação do Hamas como organização terrorista. Sabe quem também não o classifica como organização terrorista? A ONU, a Noruega, a Suíça, o governo brasileiro atual e até mesmo sob o comando de Jair Bolsonaro. Seguir as classificações determinadas pela ONU é uma tradição histórica do Itamaraty, e não uma invenção do Lula e do PT.

O assunto é bastante complexo, mas a superficialidade com que é tratado pela imprensa pró-Israel ajuda a embalar as narrativas mentirosas da extrema direita brasileira. Não se cobra dos bolsonaristas, por exemplo, que classifiquem as ações violentas do governo israelense contra palestinos como terrorismo de estado. Apenas os petistas e o governo Lula são os que devem ajoelhar no milho e dar explicações para a imprensa alinhada às narrativas oficiais do governo israelense.

Há quase 3 mil brasileiros morando em Israel, mas curiosamente a imprensa brasileira só ouve aqueles que ignoram o regime de apartheid vivido pelos palestinos e tratam o governo israelense como a única vítima.

O pastor bolsonarista Felippe Valadão, que organiza uma excursão da igreja Lagoinha em Israel, passou bons minutos na GloboNews dando seu testemunho. A família desse líder fundamentalista é famosa no Brasil por atacar sistematicamente gays e religiões afro-brasileiras e endossar o golpismo dos bolsonaristas. Esse homem é considerado pela Globo um interlocutor válido para relatar sua experiência em Israel.

O jornalista Jorge Pontual, correspondente da Globo News em Nova York, foi outro que se sentiu à vontade para contar outra fake news que fez a cabeça do bolsonarismo. Segundo ele, o Hamas teria decapitado 40 bebês israelenses na fronteira com a Faixa de Gaza. A informação foi divulgada por uma TV de Israel, mas já havia sido negada pelo próprio exército isralense. Mesmo assim, Pontual a divulgou ao vivo para todo o Brasil e ainda fez comparações com o Holocausto.

Esse requinte de crueldade fabricado pela mídia corporativa internacional tem como único objetivo justificar a violência do revide israelense contra Gaza. No Brasil, a mentira contribui para atiçar o ódio bolsonarista.

No geral, a imprensa brasileira consegue ser mais hegemonicamente pró-Israel do que a própria israelense. Em editorial, o jornal Haaretz responsabilizou o primeiro-ministro israelense pelo último ataque terrorista do Hamas. “O desastre que se abateu sobre Israel no feriado de Simchat Torá é de clara responsabilidade de uma pessoa: Benjamin Netanyahu”, afirma o editorial.

O jornal responsabiliza Netanyahu por não conseguir "identificar os perigos para os quais estava conscientemente conduzindo Israel ao estabelecer um governo de anexação e desapropriação" e por "adotar uma política externa que ignora abertamente a existência e os direitos dos palestinos.”

É inimaginável ver esse tipo de afirmação em um editorial de qualquer jornalão brasileiro. Aqui, qualquer crítica ao governo de Israel neste momento é encarada como um endosso automático à violência do Hamas. Já o apatheid em Gaza é encarado como inexistente ou, no máximo, como irrelevante. Tudo isso é feito, claro, sob o falso manto do isentismo jornalístico.


João Filho
Colunista

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Governo já resgata mais de 700 brasileiros da zona de conflito: solidariedade e rapidez

VOLTANDO EM PAZ

País cria operação em tempo recorde e garante retorno para quem ficou preso diante do conflito no Oriente Médio

Grupo de brasileiros que embarcou em voo do Governo Brasileiro que deixou Tel Aviv com destino a São Paulo nesta quinta, 12/10. Foto: @gov.br


13/10/2023 | Enquanto o mundo ainda estava em choque com o início de um novo conflito de grandes proporções no Oriente Médio após os atentados de 7 de outubro em Israel, o Governo Federal já mobilizava toda uma estrutura para trazer de volta com rapidez os brasileiros que estavam na zona de conflito.

Menos de uma semana depois do início do conflito, 701 brasileiros já estão de volta ou a caminho de casa com segurança, após a mobilização de quatro aeronaves da Força Aérea Brasileira, inclusive um avião presidencial, para as ações de resgate

No próprio sábado, foi criado um gabinete de crise. As embaixadas do Brasil em Tel Aviv (Israel), Cairo (Egito) e o Escritório de Representação em Ramala (na Palestina) foram acionados. Um formulário online ajudou a identificar os brasileiros em situação de dificuldade. Mais de 2,7 mil manifestaram interesse em retornar. Requisitos de prioridade para brasileiros sem passagens, não residentes, gestantes, idosos, mulheres e crianças foram adotados.

Menos de uma semana depois, 701 brasileiros já estão de volta com segurança ou a caminho do Brasil, após a mobilização de quatro aeronaves da Força Aérea Brasileira, inclusive um avião presidencial, para as ações de resgate.

O governo também garantiu transporte de ônibus das principais cidades israelenses para o aeroporto de Tel Aviv. Já houve desembarques em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Recife e as aeronaves seguem indo e voltando para garantir o retorno de todos.

UNIDOS - O processo envolve muita gente. Desde servidores do Ministério da Agricultura, que facilitaram o embarque de cachorros e gatos em condições especiais, até servidores do Itamaraty e ministros, como Mauro Vieira (Relações Exteriores) e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

As conversas são essenciais para ajustar o cruzamento de fronteiras em segurança e o uso do espaço aéreo dos países da região. Em especial para permitir que 22 brasileiros que estão em Gaza consigam cruzar a fronteira terrestre com o Egito em segurança para serem deslocados para o Brasil.

Lula, por exemplo, conversou por telefone com o presidente de Israel, Isaac Herzog. Agradeceu o apoio dos israelenses, se solidarizou com as violentas mortes nos atentados terroristas no país e pediu a criação de um corredor humanitário para preservar crianças, adolescentes e mulheres e garantir comida, remédio, água e luz na região de conflito.

“Solicitei ao Presidente todas as iniciativas possíveis para que não falte água, luz e remédios em hospitais. Não é possível que os inocentes sejam vítimas da insanidade daqueles que querem a guerra. Transmiti meu apelo por um corredor humanitário para que as pessoas que queiram sair da Faixa de Gaza pelo Egito tenham segurança. E disse que o Brasil está à disposição para tentar encontrar um caminho para a paz", postou o presidente nas redes sociais.

SAÚDE FÍSICA E MENTAL - As tripulações dos voos de repatriação para o Brasil também contam com equipes de médicos, enfermeiros e psicólogos, para garantir que todos os passageiros tenham acompanhamento tanto para questões de saúde física quanto para a saúde mental, que usualmente sofre consequências diante de situações de tensão típicas de conflitos armados.

Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República